Por Marcelo Veras
– João, João, vou sacanear esse Tadeu. Quero ver se ele é bom mesmo! – disse Caio, logo na primeira aula do professor do curso de publicidade e propaganda.
– Para com isso, cara! Que mania você tem de ficar testando as pessoas! O professor Tadeu nem começou o curso… Deixa o sujeito dar a aula dele quieto!
– Ah, qual é o problema? Quero só ver se ele é bom mesmo. – insistiu Caio, já levantando o dedo e chamando o professor da disciplina de criação publicitária.
– Pois não, qual é o seu nome? – disse o professor educadamente munido do seu melhor sorriso.
– Caio, professor. Meu nome é Caio. Tenho um desafio para o senhor. Já que vai dar aula de criação publicitária, você poderia criar “agora” uma frase para uma propaganda dessa caneta que está aqui na minha mão? – perguntou Caio com cara de provocação.
A sala inteira se mexeu na cadeira. Todos conheciam a fama do cidadão de ficar testando os professores.
Alguns reprovaram, os do mal amaram, mas todos olharam para o professor em silêncio, na expectativa da sua reação e resposta, já que era apenas a sua primeira aula.
Tadeu se dirigiu até o aluno, pegou a tal da caneta da sua mão, voltou calmamente para o centro da sala, olhou para a caneta, para o dono da pergunta e, em 5 segundos, proferiu um maravilhoso anúncio comercial.
A sala inteira, inclusive o provocador, se encantaram com o texto. Alguns chegaram a abrir a boca de espanto com tamanha criatividade do professor.
A frase ficou linda, fantástica, muito vendedora.
Ana, no fundo da sala, perguntou: – Caramba, professor, como você criou isso em menos de 10 segundos?
Tadeu caminhou até o dono da caneta, devolveu-a com o mesmo sorriso que tinha antes de ser desafiado, voltou para o seu lugar, olhou para Ana e disse: – Eu não criei isso em 10 segundos, eu criei esse texto durante 40 anos e 11 meses. Essa é a minha idade!
A sala inteira ficou em silêncio total e as fichas foram caindo aos poucos na cabeça de cada um. Caio, também impressionado e visivelmente arrependido da sua postura, teve que ouvir do seu colega do lado, bem baixinho: – Tomou?!
Esse caso é real e aconteceu com um amigo próximo. Ele mostra a face mais evidente de uma competência rara hoje em dia – Cultura geral e Repertório. No caso do professor Tadeu, um publicitário com mais de 30 anos de experiência, que lê muito, viaja muito e possui uma rede de relacionamentos invejável, esse tipo de pegadinha não cola.
A resposta do Tadeu talvez não tenha nem sido 100% entendida pelo tal desafiante, porque, afinal, como diria William Shakespeare, “A ironia, nos ouvidos de um idiota, deita e dorme”.
Estamos vivendo um momento de total complexidade e, ao mesmo tempo, riqueza cultural. O volume de informação disponível é colossal e todos nós podemos desenvolver uma cultura geral fantástica.
Basta se abrir para o mundo, para o diferente, para o novo e para os relacionamentos. Quanto mais vivemos e convivemos com pessoas diferentes de nós, quanto mais lemos ou estudamos sobre assuntos diferentes da nossa realidade e quanto mais exercitamos a nossa mente para a criatividade e inovação, maior será a nossa capacidade de fazer associações não óbvias, de criar coisas inovadoras e propor ideias que podem fazer a diferença na nossa vida e na nossa carreira.
Não é à toa que as pessoas com melhor nível cultural são mais interessantes e com quem mais queremos sentar para conversar e conviver de perto. Gente limitada não atrai, afasta.
Repertório se consegue com tempo, experiência e atitude de abertura perante o mundo. E isso hoje, além de raro, é muito valorizado nos profissionais. Até o próximo!
Marcelo Veras Sócio, diretor executivo da Unità Educacional. Sócio e membro do conselho da Inova Consulting. Professor de Marketing, Estratégia Empresarial e Planejamento de Carreira.